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Como a série de 'Cidade de Deus' se distancia do filme de olho no cotidiano

A série dirigida por Aly Muritiba estreia 22 anos depois do prestigiado trabalho de Fernando Meirelles e Kátia Lund

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São Paulo

O filme "Cidade de Deus" mudou o cinema brasileiro há 22 anos ao mostrar a violência que atravessa a rotina das favelas do Rio de Janeiro. O sucesso do longa, que chegou ao Oscar, levou o Brasil a produzir uma série de obras sobre as guerras do tráfico.

Depois de seu lançamento, o país se acostumou a contar histórias nas telonas que reduziam os morros cariocas a um cemitério a céu aberto. "Cidade de Deus", a série, põe em xeque esse legado da obra de Fernando Meirelles e Kátia Lund.

Cena da primeira temporada da série Cidade de Deus: A Luta Não Para com Berenice (Roberta Rodrigues, Barbantinho (Edson Oliveira) e Buscapé (Alexandre Rodrigues) - Divulgação

O subtítulo, "A Luta Não Para", diz tudo. A mudança envolve a jornada do protagonista Buscapé, que começa a história da mesma forma que no filme de 2002 —perseguindo um tiroteio com uma câmera na mão.

Esse status incomoda Buscapé. De novo narrador dos eventos, ele confessa no primeiro episódio que virou um jornalista cascudo, capaz de aturar qualquer coisa, mas sente a morte no cangote do seu trabalho.

As suas fotos se tornam arma dos políticos e dos jornais, que incentivam o fogo pesado da polícia na favela. Já a sua filha, uma novidade da série, a certa altura o chama de açougueiro pela manipulação dos registros.

Alexandre Rodrigues, que volta ao personagem depois de duas décadas, diz que esse choque guia o Buscapé da nova série. "Ele se perdeu dentro do seu sonho. Ele sonhava tanto em ser aquilo que acabou sendo demais", diz o ator.

"O Buscapé da série até procura outros caminhos, além da fotografia, mas é tão conceituado no que faz que ninguém permite que ele faça outra coisa", acrescenta.

A série enfrenta um desafio parecido, na tentativa de desfazer os males que a obra antecessora alimentou. A proposta foi feita por Paulo Lins, autor do livro que deu origem ao filme, e instigou o diretor Aly Muritiba.

Depois de trabalhar com a violência sufocante da série de sucesso "Cangaço Novo", o cineasta viu na sequência e no formato seriado a chance de se aprofundar em tramas abreviadas pelo longa.

"A história que a gente conta na série é uma crônica do cotidiano de uma determinada comunidade no começo dos anos 2000", diz Muritiba.

"A ideia de mudar o foco me convenceu, porque sem isso eu só repetiria o filme. A gente tem a possibilidade de contar outras histórias que acontecem com essas populações."

Boa parte do elenco do filme retorna para a primeira temporada da série, que conta com seis episódios. O número equivale a três longas, na visão de Muritiba e das produtoras Andrea Barata e Silvia Fu. Elas dizem que não pensam na série por temporadas.

Antes de tudo, a ideia de "A Luta Não Para" é reproduzir nas telas o gênero da crônica no livro de Lins, de 1997.

Esse trabalho ganhou mais camadas no roteiro, que situa a série nos anos 2000, duas décadas após a morte de Zé Pequeno. Segundo Muritiba, a história acompanha o crescimento das milícias, mas também o fortalecimento de grupos minoritários nas periferias.

"A gente partiu da realidade para criar o nosso universo ficcional", afirma o diretor. "Essa atuação política muito forte nos interessou na produção, então a trouxemos para a série e construímos nossos personagens em cima dela."

Um exemplo disso é a personagem Berenice, que no original era a namorada de Cabeleira, criminoso do Trio Ternura morto pelas mãos da polícia. Na série, ela atua como uma liderança informal da Cidade de Deus que luta para impedir que os jovens virem peças no xadrez do tráfico.

A atriz Roberta Rodrigues diz que se preocupou com a nova trajetória de sua personagem, Berenice. "Quando soube que ela entraria na política da comunidade, eu falei para os produtores que não aceitava morrer", afirma.

"Não voltaria se fosse para ver mais uma barbárie com que a gente infelizmente tem que conviver em nosso país. Mexer com ‘Cidade de Deus’ é uma tarefa delicada. As chances de dar errado são grandes. Quando soube que priorizariam a comunidade na série,
fiquei muito mais confortável."

Cidade de Deus: A Luta Não Para

  • Quando Estreia domingo (25) na HBO e na Max
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Alexandre Rodrigues, Roberta Rodrigues e Thiago Martins
  • Produção Brasil, 2024
  • Direção Aly Muritiba
Erramos: o texto foi alterado

No filme "Cidade de Deus", a personagem Berenice não namorou Marreco, o irmão de ​Buscapé, mas Cabeleira, irmão de Bené. O texto foi corrigido.

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